Os ambientes alimentares e seus objetos
O Menino percorre três ambientes alimentares: o apartamento onde vive, a cozinha da Tia e a cozinha dos Avós. Embora toda a narrativa transcorra em uma mesma época, cada um desses ambientes é caracterizado por um conjunto de objetos que remetem a um determinado momento histórico.
O Menino mora em um centro urbano e habita um compacto apartamento.O ambiente do Menino faz referência a algumas tendências contemporâneas em relação à alimentação, mas adota uma forma bastante estilizada e uma perspectiva um pouco futurista. A intenção foi criar um lugar onde ficasse evidente a ausência de espaços destinados tanto ao preparo quanto ao consumo de alimentos. A cozinha, com seus equipamentos característicos, já não existe. Ocorreu uma desmaterialização do espaço de preparo de alimentos, não há louças, nem talheres, nem pia, nem geladeira. Os objetos necessários ao preparo e consumo de alimentos no ambiente doméstico foram reduzidos às caixas de comida, ao micro-ondas, à lixeira e à mesa do computador, que serve de mesa para as refeições.
Além da desmaterialização do espaço destinado à alimentação, há também uma drástica contração do tempo de preparo e consumo. O Menino se alimenta de uma comida em caixinha, chamada de Super Plunf, um preparado altamente processado, com uma textura homogênea, mole e que exige pouca mastigação, no qual sabor e cor são artificializados. A “plunfeira” é um tipo de micro-ondas que serve para armazenar as caixas de Super Plunf e prepara a comida em apenas cinco segundos. O Menino quase que simultaneamente morde (abocanha) e engole a comida, fazendo um som característico.
Convivendo com objetos automatizados, a interação do corpo do Menino com as coisas é minimizada. O mesmo gesto é usado no computador, na “plunfeira” e para abrir a porta do apartamento: o toque da ponta dos dedos.
A Tia mora numa casa no subúrbio. Sua cozinha só se tornou possível após a revolução industrial, com a popularização de novos materiais e tecnologias que passaram a integrar o ambiente doméstico, sobretudo depois da Segunda Guerra.
A cozinha da Tia é efetivamente um lugar planejado para proporcionar praticiade ao preparo das refeições: uma pia espaçosa, um balção para eletrodomésticos, fogão, geladeira e armários para guardar alimentos e utensílios. Há também uma mesa específica para as refeições.
No preparo dos alimentos, a ação da mão sobre os ingredientes é mediada por diversos utensílios e equipamentos eletrônicos. Muitos dos alimentos já são processados industrialmente. Uma nostalgia (e distanciamento) em relação à natureza é atestada pela presença de adornos figurando animais e vegetais.
A inserção de eletrodomésticos na cozinha provocou mudanças no modo de preparo e também no cardápio cotidiano. A popularização das geladeiras alterou os hábitos de aquisição e estocagem de alimentos. Batedeiras e liquidificadores tornaram possível a invenção de novas receitas.
A casa dos Avós é de madeira e não tem luz elétrica, nem água encanada. A louça é lavada em um alguidar de cerâmica que fica junto à janela. A cozinha é um ambiente pouco iluminado, onde há um fogão à lenha e uma grande mesa com bancos rústicos. Existem poucos utensílios. A mesa de refeições é o local onde são preparados os alimentos e onde são feitas as refeições. O espaço destinado às práticas alimentares é mais amplo e nele são armazenadas as verduras e frutas frescas, plantadas por eles próprios, as quais são ingredientes fundamentais do cardápio.
Cada um dos objetos escolhidos para compor a cozinha dos Avós testemunha antigas práticas relacionadas à alimentação, mas também possui traços culturais típicos das habitações dos pequenos proprietários rurais do Sul do Brasil. Procuramos dar ênfase a objetos que se tornaram pouco comuns nos lares de hoje em dia, como o pilão, os utensílios de madeira e o fogão à lenha.
Ao evitar a presença dos recursos de conforto próprios aos lares modernos, como a energia elétrica, a água encanada e o gás de cozinha, buscamos evidenciar um modo de vida em que a relação do corpo com a matéria alimentar é pouco mediada, e as tarefas relacionadas à alimentação demandam um espaço extenso e um longo período de tempo. São tarefas que começam cedo e envolvem atividades como buscar água no poço, providenciar lenha, alimentar os animais, tirar leite, cuidar das plantações etc.
Cada um dos ambientes é composto por um conjunto de objetos relacionados ao processo de preparo dos alimentos e aos hábitos de consumo de seus moradores.Esses ambientes não apenas produzem alimentos e hábitos alimentares distintos, também constroem paisagens sonoras próprias. Através da observação dos sons também podemos perceber as diferenças entre os três lugares, o que nos leva a uma reflexão acerca da historicidade dos sons domésticos.
Há uma intencionalidade no uso das cores e na forma de iluminação de cada um dos espaços. Estes elementos também são características que diferenciam os ambientes abordados na narrativa do Super Plunf e podem ser explorados ao analisar a animação com os alunos.
Exercícios de observação
1. Pedir para os alunos identificar e os sons que predominam em cada um dos ambientes e listá-los nos cadernos.
2. Reconhecer as cores predominantes em cada um dos ambientes. Ao que essas cores remetem? Que tipo de sensação transmitem?
3. Listar os objetos presentes em cada um dos ambientes.
4. Quais dificuldades cada personagem teria se tivesse que conviver no ambiente do outro?
Materiais de Apoio
- A cozinha da colônia – Paula Pinto e Silva
http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista13-mat3.pdf
- Farinha, feijão e carne-seca : Um tripé culinário no Brasil colonial
http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=100
- Estilos de cozinha: colonial brasileiro
http://www.coletivogourmet.com.br/papos-a-mesa/estilos-de-cozinha-colonial-brasileiro/
- O papel dos grupos indígenas na formação da cozinha brasileira
- Da brasa ao microondas: a cozinha no brasil
- A influência africana na culinária brasileira
http://quartetogastronomiabrasileira.blogspot.com.br/2013/07/teste.html
- Raízes da gastronomia brasileira: Comunidades Afrodescendentes